quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Arqueiro


“A flecha será o equilíbrio dos soberbos
Apenas o mais sábio a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas”



E puxou o ar para dentro de si. Segurou. Retesou seus músculos como fazia com a corda do arco e, embora essa fosse uma tarefa que cansara de realizar, tudo era mais difícil de fazer absorvido em plena guerra. O Arqueiro tinha que se concentrar de alguma forma. Buscar em sua sabedoria o equilíbrio. Tinha que se acalmar mesmo em meio a aquela profusão de gritos e sons metálicos. O caos já tinha tomado conta do campo de batalha e não era mais em ordem como no início do conflito. Agora não tinham mais a vista aquelas lindas e esvoaçantes bandeiras desfraldadas. Era apenas aço, poeira e sangue.
Landaker ou apenas Lander, como era chamado pelos companheiros mais próximos, tinha um bom arco. Feito de madeira de olmo vindo da Floresta Enegrecida e esta era flexível e resistente como deveria ser. A corda era de fibra das trepadeiras que revestiam as raízes dos mesmos olmeiros e era tratada com cera. Era retirada sempre que ele não usava a arma para não desgastar a madeira. Havia materiais mais nobres que aqueles, era verdade, mas um arqueiro nunca foi dos homens mais abastados de um exército.
Era um homem das montanhas, mas ao contrario do que era esperado de sua posição, tinha sido treinado pelos melhores povos que usavam arco de toda Ansalon. Aprendeu com os elfos a se focar no alvo de tal forma que este se tornava a única coisa que importava. Com os solâmnicos ganhou a capacidade de se manter firme nas adversidades do combate, pois esses Senhores dos Cavalos disparavam suas flechas montados. No entanto, foi com os hashashin de Khur que aprendeu a ser frio, deixando o ar sair calmamente enquanto buscava seu alvo.
O alvo.
Muitos já tinham sidos alvejados por Lander até agora e já era hora de parar de buscar soldados. Tinha que atingir aqueles que, mortos, mudariam o sentido da guerra. Tinha que ter como alvo os comandantes. Tinha que flechar os nobres. Todos os guerreiros eram apenas borrões agora, mesclados, mas foi então que seus olhos pousaram em uma armadura escura de escamas dracônicas. Crânio de Dragão Negro era forjado no elmo trazendo seu símbolo cavernoso para aquele campo. Mas agora não mais. A morte também viria para o senhor negro e o arqueiro iria se assegurar disso. Iria garantir que aquela arrogância e displicência escapariam do homem farto de títulos e riqueza. Suas terras não o protegeriam agora. Sua Casa de nada lhe valeria contra o Arco Longo Composto que era tencionado pelos braços taciturnos de Lander.
Tudo ficou mais lento e o Arqueiro quase não podia mais ouvir aquele barulho infernal do conflito. Percebeu que um jovem de infantaria estava correndo para atingi-lo, mas Lander nem se moveu. Estava com a mente fixa em seu alvo e assim não tinha medo de morrer, apenas receio de ser atingido antes de seu arco disparar. No entanto, um dos milicianos aliados atingiu seu algoz com a espada e salvou-o para que pudesse fazer seu trabalho. E ele o faria.
Seus braços estavam tão friccionados que Lander nem sentia mais dor. Puxou a corda até quase arrebentar. Era forte, como eram os arqueiros, pois tinham de aprender desde crianças. Um árduo treinamento que os diferenciava dos besteiros. Qualquer um podia usar uma besta, mas somente alguém experiente poderia manejar um arco longo. Assim ele era pura vontade e determinação. Eram apenas o arqueiro e o alvo.
Disparou a flecha que voou, em pleno equilibro, galgando o campo de batalha. Acima de toda a soberba e arrogância dos cavaleiros escuros. Não importava mais se o atingiria ou não. A flecha era livre. Pensou o Arqueiro. Como ele era livre.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Coração


Que seja como pede a sua vontade.
Não é assim tão ruim no final das contas.
Posso apenas imaginar como seria.
Sempre vivi de sonhos e ilusões.
Escuto sua voz me chamar baixinho.
Sinto seu toque por todas as manhãs.
Até vejo nossos filhos no parque...

Mas tenha apenas compaixão.
Devolva aquele velho coração.
Que você levou em vão.